Construída em 1000 a.C. e habitada até o séc. 12, Hegra foi o primeiro lugar da Arábia Saudita a ser considerado Patrimônio Material pela UNESCO.
A cidade também chamada de al-Hijr ou Mada'in Saleh, é considerada a segunda capital dos nabateus. Operando como uma metrópole comercial, sendo referência na venda e troca de aromáticos e especiarias tais como: raiz de gengibre, açúcar, pimenta em grão, olíbano e mirra.
Assim como a antiga cidade de Petra, atual Jordânia, o grande atrativo de Hegra está relacionado a arquitetura das edificações. A cidade é uma mistura de diversas culturas, apresentando traços de assíros, egípcios, gregos e fenícios. Não é ao acaso que ambas as cidades sejam dos nabateus.
Logo, a arqueóloga Laila Nehmé nomeou esse estilo de Árabe Barroco "Porque barroco é a mistura de influências: nós temos um pouco da Mesopotâmia, Iraque, Grécia, Egito", ela segue dizendo "Você pode pegar algo completamente emprestado de uma civilização e tentar reproduzir, mas não foi isso que eles fizeram. Eles pegaram emprestado de vários lugares e construíram seus próprios modelos originais".
Além da intrigante arquitetura, Hegra apresenta uma necrópole fascinante com o total de 115 túmulos conhecidos. Conforme os especialistas, não é possível saber quem construiu as tumbas ou quem foi enterrado no local visto que não há esclarecimento algum sobre o estilo de vida dos nabateus. Os túmulos foram esculpidos no arenito e nos batentes de entrada se encontram imagens de fênix, águias e cobras.
A tumba mais famosa tem cerca de 22m de altura e pertence ao Lihyan, filho de Kuza, conhecido também como Qasr al-Farid que significa "Castelo Solitário", por conta da distância entre essa tumba e as demais. Ela ficou inacabada, assim como outras que foram abandonadas no meio da construção sem motivo aparente. Ademais, as tumbas datam desde 1 a.C. até 70 d.C., permitindo que os pesquisadores entendam um pouco da cronologia de nabateia.
Os nabateus são uma das civilizações mais enigmáticas, principalmente por conta de sua cultura há muito perdida. Apesar disso, sabe-se que essa civilização habitou o norte da Península Arábica e o sul do Levante desde o século 4 a.C. até 106 d.C.
Grande parte das informações sobre os nabateus vêm de documentos romanos, egípcios e da Grécia antiga, isso porque não encontraram escritos da própria civilização. Apesar disso, entende-se que o alfabeto dessa civilização influenciou o árabe moderno.
Mesmo com as lacunas, é fácil reconhecer o seu pioneirismo na arquitetura e hidráulica. Eles coletavam a água da chuva, vinda das montanhas escarpadas, e guardavam em cisternas. Ademais, a preservação dos túmulos se deu através de canos de água naturais, construídos ao redor dos túmulos para proteger suas fachadas da erosão.
“Essas pessoas eram criativas, inovadoras, imaginativas, pioneiras" afirma o pesquisador Graf.
Em 2019 a Arábia Saudita passou a emitir vistos de turismo e a investir, principalmente, na cidade de AlUla que é um oásis próximo a Hegra. Essa cidade se tornou um centro de artes, cultura e turismo, a partir de todos esses avanços, Hegra se tornou acessível ao público nesse mesmo ano.
O interior dos túmulos também foi aberto para visitação, para reduzir o intenso tráfego de pessoas, a visitação é realizada um de cada vez, rotacionalmente.
Segundo a Helen McGauran, gerente de curadoria da Royal Commission for AlUla, os guias turísticos da região foram escolhidos a dedo e a equipe foi orientada por arqueólogos e capacitada por museus internacionais inclusive "Muitos são de AlUla e falam lindamente de suas próprias conexões com este lugar e sua herança". Esse diferencial permite uma experiência muito mais enriquecedora "sendo este lugar uma transferência cultural, de viagens, de viajantes e um lar para sociedades complexas. Continua sendo um lugar de identidade cultural e expressão artística" complementa a gerente.
Além disso tudo, uma equipe com mais de 60 especialistas começou um projeto de pesquisa que terá, a princípio, dois anos de duração. O objetivo inicial é analisar uma área de 3,3 mil km², é a primeira vez que uma área tão grande de território, um tanto quanto desconhecido, é sistematicamente investigada. O projeto conta com o auxílio de um equipe de arqueologia aérea. Voando entre 600 à 900m de altura o grupo já cobriu metade dos 11,5 mil locais esperados
No intuito de garantir que novas construções não sejam erguidas em cima ou próximos de sítios arqueológicos, essa pesquisa é majoritariamente preventiva “Aprendemos com os erros de outros países e estamos investindo para evitar danos aqui”, afirma o líder de pesquisa Jamie Quartermaine da organização Oxford Archaeology.
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