A contraditória existência dos recifes de corais na Foz do Amazonas
Apesar de parecer impossível e um tanto contraditório, pesquisadores vem coletando cada vez mais provas de corais na Amazônia e sua importância para biodiversidade aquática.
O termo corais é comumente usado para se referir aos recifes de corais, que é um habitat marinho extremamente rico em biodiversidade. Porém corais são animais pertencentes ao grupo dos cnidários (corais, águas-vivas e anêmonas) que compõe grande parte dos recifes.
Apesar das controversas, a definição mais aceita de recifes é um ecossistema com grande depósito de carbonato de cálcio (CaCO3), proveniente de organismos bioconstrutores, ou seja, espécies capazes de produzir e secretar calcário, carbonato e sílico, como por exemplo os corais e as algas calcárias.
Nesse cenário, os corais e as zooxantelas (algas unicelulares) apresentam uma relação de simbiose, onde as algas produzem matéria orgânica para os corais através da fotossíntese. Enquanto as mesmas recebem nutrientes derivados da excreção do coral e um habitat seguro para se fixar. Ainda que o coral dependa das zooxantelas para sobreviver, elas não apresentam essa dependência podendo existir independente dessa relação.
Sendo assim, para manter um recife de coral é necessário que as algas realizem a fotossíntese, por isso esses ecossistemas são encontrados a uma profundidade de até 40m para que ocorra o máximo de incidência solar possível.
Entretanto em 2016, pesquisadores descobriram um recife de águas profundas perto da foz do rio Amazonas, o que levou a uma série de questionamentos sobre o assunto.
Inicialmente chamado de Recife Improvável, a zona recifal da Foz do Amazonas apresenta uma variação de salinidade e pH da água, além de uma profundidade máxima de 220m. Essas características são atípicas desses ecossistemas, porém de acordo com o professor do Instituto de Biologia da UFRJ, Rodrigo Leão de Moura, as algas vermelhas são capazes de realizar a fotossíntese mesmo em áreas mais sombrias, pois usam a luz de forma mais filtrada, ou sejam usam o espectro azul da luz.
Esse Recife por estar na Foz do Rio Amazonas apresenta o encontro de água doce e salgada e se encontra a 100km do litoral, tendo um comprimento de 900km de extensão e 56 mil km² de área.
Toda essa extensão abriga cerca de 70 espécies de peixes, camarões e lagostas, sendo que ainda existem muitos estudos a serem realizados na região. Além desses animais servirem como fonte de alimento e renda para milhares de famílias locais, o professor do Centro de Biociências e biotecnologia da UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), César Cordeiro ressalta que “Existem espécies que podem estar aparecendo apenas naquela área e em nenhum outro lugar do mundo.”
Atualmente os cientistas chamam esse recife marinho da Amazônia Azul de Grande Sistema de Recifes do Amazonas (GARS - sigla em inglês). Após diversas datações e coleta de dados, os resultados indicam que esses recifes começaram a se formar entre 14 e 12 mil anos atrás, porém em um período em que o nível do mar subiu rapidamente, eles deixaram de crescer por 5 mil anos. Somente há 7 mil anos atrás, mediante condições mais favoráveis que eles retornaram a crescer atingindo sua configuração atual.
Diante de suas características únicas, abrigando tamanha riqueza e diversidade de espécies, o professor Rodrigo Leão de Moura destaca a existência de um grande potencial de ganhos econômicos através de estudos e da proteção desses sistemas.
Os dois pontos principais de maior preocupação dessa área são: a carência de estudos e a determinação de empresas petrolíferas em perfurar essa região. Calcula-se que somente 5% desse sistema tenha sido investigado cientificamente e que ainda cerca de 90% da biodiversidade marinha seja desconhecida.
Entretanto muitos pesquisadores já consideram esse local como sendo um “corredor de biodiversidade”, ou ainda um “trampolim ecológico” entre o Mar do Caribe e o Atlântico Sul. Isso significa que a fauna das duas regiões pode transitar entre si, ou ainda, podem existir espécies endêmicas desse ambiente distinto. Em suma esse Grande Sistema de Recifes do Amazonas apresenta uma importância econômica, ambiental e até médica e por isso deve ser cada vez mais estudado e preservado.
Referências:
Recifes de corais (1): Barreira, atol e franja são tipos desse ambiente marinho - UOL Educação
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